quinta-feira, 28 de março de 2013

Comer em Luanda

Talvez um dia volte a escrever coisas mais gerais aqui, mas por enquanto estou fazendo um despretensioso guia de restaurantes em um blog novo, Comer em Luanda. http://comeremluanda.blogspot.com Vai lá.

sábado, 15 de agosto de 2009

Bazei

Bom, eu estava adiando isso, mas é hora de fazer o que eu já devia ter feito antes. Preciso acabar com esse blog. Admito meu fracasso dessa empreitada de mantê-lo, e principalmente, de gerar assuntos pra ele. Não estou com writer's block, ou nada do tipo, mas não tenho vivido uma existência aqui especialmente interessante, que permita escrever toda semana sobre algo bom de ler. Não que essas coisas não existam aqui, muito pelo contrário. Eu é que não tenho tempo pra isso com minha rotina de trabalho. Um abraço a todos vocês que acompanharam, e nos vemos na próxima. Eu continuo no Twitter e no meu blog de cinema. Quem quiser pode me adicionar no orkut e no facebook.

FIM

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Drops, agora sim

Um mês sem aparecer aqui, mas vocês não sabem da minha rotina. Uns drops angolanos para meus caros (e raros leitores):

* Houve caso de brasileiro que cortou cabelo aqui e ganhou de presente uma bactéria, que ficou alojada em seu crânio. Todo mundo fala de micoses, e do risco das giletes, etc. Como tento não ser turista acidental, resolvi ignorar as recomendações e fui a uma barbearia aqui perto, de congoleses francófonos. Nada anormal, tudo muito limpo, mas um detalhe é assustador: eles fazem o pé sem navalha. Prendem a lâmina entre o polegar e o indicador e você têm de entregar pra Deus. Fizeram dois caminhos de rato disfarçáveis e um pequeno corte na costeleta, mas já vi coisa pior em Salvador.

*Tô com gripe bem forte, dor de cabeça há uma semana. Alerta vermelho para malária, muito comum nessa época, mesmo nas áreas mais limpas de Luanda. Bom, fui fazer o teste, que sai em uma hora, e fiquei muito ansioso, mas deu negativo. De qualquer jeito, recomendam que o teste seja repetido caso os sintomas não passem. Continuo com todas as dores, mas ainda assim, não deve ser o paludismo: meu sistema digestivo continua intacto, e diarreia e vômitos são os principais indícios da doença. Mesmo assim, nada bacana ficar doente longe de casa. (PS. Já estou bem e não era malária).

*Desde setembro, ou outubro, ainda em Salvador, já não estava mais na reportagem. Fazia as matérias só quando queria, por fora do trabalho na edição do A Tarde On Line. Aqui também vim para trabalhar com edição de sites, e agora fui pra redação, mas editando. Dia desses fui pra rua fazer minha primeira entrevista em muito tempo, e o local foi um cinema desativado, usado agora como centro de convenções. O lugar é muito bonito, ainda mais por dentro. Por fora, o amarelo forte deixa claro que o prédio tem também sua identidade africana. Minha amiga Mary Weinstein ia adorar isso aqui.


*Pamplona chegou e eu já o fiz passar pela primeira roubada angolana. Ele não conhece a cidade e eu não sei dirigir. Fomos ao Belas Shopping na intuição, e, na volta, nos perdemos completamente. Entramos numa estradinha de terra com poeira lá em cima, na entrada pra Viana, bairro bem afastado do centro. À noite, com aquela névoa do barro levantado e o visual inóspito de prédios abandonados, nos sentimos em alguma cidade comunista abandonada, em Moldova, ou Belarus. Depois de muito rodar, saímos por acaso já bem perto de casa.

*Uma das coisas mais divertidas aqui é ver que não existem as manicures, e sim OS manicures. As mulheres fazem as unhas nas ruas, em banquinhas lotadas de esmaltes comandadas por homens, todos completamente seguros do que estão fazendo e nem um pouco próximos do clichê brasileiro de homens que trabalham em salão. Não, eles poderiam estar vendendo qualquer coisa, engraxando sapatos, mas fazem unhas. Não esperem esterilização.

*Acho que o próximo post, se houver, só na volta. Parto nesse fim de semana para mereceidas férias, e depois de mais 15 dias retorno a Luanda, se Deus quiser. Até lá.

sábado, 20 de junho de 2009

Cabo Ledo

Não bastasse minha inabilidade como fotógrafo, só tenho uma câmera de liquidação do Extra, que não faz justiça aos lugares e coisas lindas que tenho visto por aqui, quando me sobra tempo. Domingo passado estava bastante empolgado com o visual do Cabo Ledo, praia semideserta a 100 e poucos km a sul de Luanda. Tirei várias fotos, sai andando procurando ângulos bons, mas não houve jeito. O que vos apresento aqui está muito longe de revelar a beleza daquele lugar.

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Ponte sobre o rio Kwanza

Para bem aproveitar a praia e evitar os congestionamentos da volta para casa, partimos bem cedo de Luanda, numa carrinha (pick-up, no Brasil) da empresa. O carro que está lá em casa não aguenta a estrada, mas acho que teria chegado a Cabo Ledo sem problemas. Por mais que a recomendação geral seja de evitar sair da cidade com carros pequenos, a rodovia está em excelentes condições, e permite uma viagem tranquila. Bem melhor que a a BR-324, que liga Salvador a Feira de Santana, por exemplo.

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Céu de cara feia

Pois bem, chegamos a Cabo Ledo ainda cedo, mas estava meio desapontado no caminho com o tempo ruim anunciado pelo céu branco do cacimbo. Ao chegar à praia, no entanto, esse tipo de pensamento some logo, devido à beleza do lugar, uma enseada circundada por um muro de pedra, sem barulho, barracas de praia e poucos turistas, que trazem sua própria infra: sanduíches e bebidas no gelo.

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Uma pedra no meio do caminho

Logo me afastei do pessoal e saí andando pela praia, passando pelo corredor estreito de areia entre a água e as pedras, na maré baixa. Uma ou outra pessoa passava de vez em quando. Com o céu de cara fechada, vento frio e água gelada por entre os pés, não há como não sentir um pouco de melancolia.

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Pan do Cabo Ledo

Percorri um bom trecho se praia sem viva alma, até chegar a outro ponto de concentração de banhistas. Assim como no ponto de partida, quase nenhum angolano à vista. Nem brasileiros: pelo que ouvi, todos falavam com sotaque português, uns outros se comunicavam em francês. E um grupo de japoneses, claro, tirava fotos. Todos vestidos.

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Esses incríveis japas e suas máquinas maravilhosas

De volta ao local onde chegamos, fui um dos poucos a encarar a água gelada. No mar, além de mim, só os surfistas. Sem nenhuma ilha na frente do litoral -como acontece em Luanda-, a praia do Cabo Ledo recebe o Oceano Atlântico de frente, sem anteparos, e pela primeira vez vi ondas por aqui. Não é nada de nível Pipeline, mas os surfistas pareciam divertir-se.

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Surfin' in Angola

Quando já estávamos de saída, lá perto das 14h, o sol resolveu romper a bolha branca do cacimbo e apareceu, meio tímido. Pensando bem, nem fez falta. Mais fotos (ruins) no meu álbum no orkut.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Blogger's block

Na minha primeira temporada em Angola o banzo demorou mais para chegar. Só que dessa vez estou praticamente sozinho há um mês numa casa de seis quartos, com um carro na garagem que não sei dirigir (não dirijo nenhum carro, na verdade), roteiro casa-trabalho no loop e fins de semana de silêncio sepulcral, que tento romper saindo a pé pela cidade até cansar as pernas e ficar todo suado. Falta de transporte público, ou mesmo de táxis, é realmente uma tragédia.

A boa notícia é que, ao menos por enquanto, estou fora da minha sala vazia e fui trabalhar na redação, com outras 20 pessoas - e eu sou o único brasileiro. Claro que vou levar um tempinho para me adaptar, mas meu problema nunca foi dificuldade de fazer amizades. O problema é fazer amigos que morem perto de casa, já que eu tenho limitações de movimento.

Mas vejam como são as coisas: quem está de malas prontas para vir trabalhar aqui em Luanda é Vitor Pamplona, que foi meu colega de turma na Facom e de mais dois empregos e do Nacocó, el editor do abandonado e sensacional blog Hora Prima e é o marido da minha querida amiga Emanuella Sombra.

Os dois eram o casal 20 da Facom e passaram a ser do A Tarde também, e, esperamos, devem ser em breve o casal 20 de Angola. Bem-vindo, Vitor. E bem-vinda, Manu, quando quer que você venha - e vai ser em breve, tenha fé. (Vitor deve morar a 40 minutos de caminhada daqui, acho)

***

Fora isso, Luanda entrou no cacimbo, a estação "fria" da África austral. Na prática, não é fria de verdade. O sol apenas fica escondido por uma tela branca que cobre o céu, como se estivéssemos em São Paulo - só que as nuvens não têm nada a ver com poluição. No interior do país, baixa a névoa mesmo.

A cidade me parece mais seca, também: andei hoje pelas ruas próximas ao jornal à procura de um restaurante e quando voltei podia jurar que uma criança travessa teria condições de rabiscar "me lave" com os dedos na minha testa. Quanta poeira.

***

Pois é: inspiração para escrever é uma questão de ter o que falar, e é por isso que esse blog anda desatualizado. Não quero encher ninguém com as crônicas do meu teto imóvel, mas, mais uma vez, acho que vocês podem acompanhar algo mais interessante. O jornalista João Fellet, que trabalhou no mesmo jornal onde estou agora, segue sua viagem Joanesburgo-Cairo sobre rodas, e já está lá no Egito. O blog dessa viagem é sensacional, justamente porque Fellet está vendo e descobrindo coisas incríveis - e jornalista talentoso que é, sabe falar escrever sobre isso tudo muito bem. Leia o Candongueiro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A cara da cidade

A coisa que mais gosto em Luanda são as placas das ruas e avenidas no centro da cidade - na verdade, caixas retangulares de concreto presas ao chão separadas da parede por duas hastes de metal. No retângulo, doze azulejos pintados dizem onde você está. Muito bacana. Os nomes das ruas quase sempre são emprestados de líderes de esquerda do mundo, como Allende e Che Guevara, ícones da cultura portuguesa, como Eça de Queirós, ou heróis da luta de independência angolana.

Rua2

Essas plaquinhas de azulejo são uma falsa promessa: apesar de quatro séculos de colonização portuguesa, Luanda não tem um centro histórico, justamente porque o centro foi modificado geração após geração, mas não abandonado. Somente agora, no século 21, o sul da cidade começa a crescer.

Rua1

Essa modificação constante da cidade anulou grande parte do possível interesse arquitetônico de Luanda, que hoje tem poucos prédios coloniais e, a partir da libertação de Portugal, foi reconfigurada segundo padrões estéticos pesados, quase soviéticos. A sensação ao andar por algumas ruas de Luanda é de que o arquiteto do campus de Ondina da UFBA passou umas férias por aqui nos anos 70.



Av. Combatentes (foto do Wikimedia)

Os prédios de cinco andares com cara de burocracia, entretanto, já estão enfrentando concorrência. Com o boom econômico pós-guerra, a cidade ganhou seus primeiros arranha-céus - ainda-tímidos, é verdade - e já foram contabilizados pelo menos 50 grandes edifícios, entre projetos comerciais e residenciais. É viver para ver se a Luanda de 2030 será uma nova Dubai ou terá alguma identidade própria.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

É feitiço

O assunto do dia entre os angolanos é o caso de um rapaz de 20 anos que estuprou a própria mãe, de 60. Não ouvi o noticiário na rádio - que ainda é o principal meio de informação no país - mas todos os locais por perto estão convencidos de que se trata de mais um caso de "feitiço".

Quando as coisas são absurdas demais, sempre há uma explicação esotérica. Nessa ocorrência em particular, o consenso é de que o jovem teria sido incitado por um curandeiro, a quem deve ter procurado em busca de uma solução rápida para ficar rico. Em casos de pacto, os feiticeiros sempre pedem uma ação violenta contra um membro da família, e aí sobrou pra mãe do rapaz ambicioso.

Essa ideia de "feitiço" é assustadora e amplamente difundida por aqui, mesmo entre as pessoas de melhor formação. No geral, a população teme com o diabo à cruz qualquer menção às religiões africanas. Falei sobre as estátuas dos orixás do Dique do Tororó ao motorista e às secretárias da primeira casa em que morei, e todos ficaram incomodados.

Eles não apenas não têm a menor ideia de quem são Oxalá, Iansã ou Ogum, mas mostram repúdio imediato à simples menção de tais entidades. Pudera: são todos frequentadores da Igreja Universal do Reino de Deus, que cresce por aqui em ritmo de galope, com a ajuda da Record Internacional exibida em rede aberta.

Até hoje não conheci nenhum angolano que pratique ou admita ser praticante de qualquer religião africana, tanto que, na minha ignorância, nem sei mesmo se os orixás famosos na Bahia têm alguma correspondência com os deuses daqui. Por enquanto, só tenho visto monoteísmo católico e protestante.

Os indistintos "feiticeiros" só aparecem no jornal e na boca do povo associados a notícias desse tipo, como vilões cruéis, ou então no lugar de dissidentes expurgados - já li mais de uma vez notícias sobre pessoas mortas apedrejadas pelos vizinhos, acusadas de feitiçaria.