sábado, 14 de fevereiro de 2009

Infra

Estou morando aqui em Angola há exatamente um mês. Peguei o voo da TAAG no Rio de Janeiro no dia 13 de janeiro e, ao contrário do que aconteceu com outros colegas, cheguei aqui são e salvo, sem nenhuma infeccção intestinal causada pelo rango que eles servem, e minha mala apareceu em menos de uma hora, intacta.

Num balanço desse primeiro mês, tenho de reconhecer que a sensação de bolha é meio que inevitável, ao menos em curto prazo. Fui a alguns lugares muito bons, mas somos de alguma maneira protegidos pela estrutura de acolhimento das empresas que contratam estrangeiros para que nos sintamos em casa, o que é muito bom. Por outro lado, isso sacrifica um pouco a experiência de "viver fora" de verdade, entre as pessoas.

Mas provavelmente estou sendo um pouco ingênuo em querer chegar a outro lugar e me misturar a ponto de me tornar indistinto dos locais. A melhor coisa é aceitar a condição de estrangeiro e viver assim do melhor jeito possível, e acho que estou conseguindo fazer isso. Só não quero ser um "turista acidental".

***

Desde que cheguei aqui, a última semana foi a mais caótica na minha relação com a cidade. Com a volta às aulas, finalmente percebi como isso aqui pode realmente parar de funcionar devido ao trânsito. Luanda tem um 5 milhões de habitantes, mas o centro daqui tem um tamanho proporcional a uma cidade de 500 mil habitantes.

Como o sistema de transporte coletivo está suspenso e todo mundo se desloca por meio das candongas (as peruas locais, no regime de salve-se quem puder, sem tarifas fixas e gente amontoada até que não caiba mais ninguém), o trânsito dá um nó nas vias principais do centro, todas estreitas, já que isso aqui é uma cidade colonial. E, claro, como não há táxis ou qualquer outra alternativa, os gringos e abastados todos andam de carro, o que faz com que o número de veículos rodando na cidade seja muito maior que o suportado.

Resultado: para quem mora em Luanda Sul e precisa se deslocar para o Centro para trabalhar, pode contar três horas perdidas por dia no congestionamento. Quem tem de se deslocar dentro do centro, como eu, perde menos tempo porque encontra trânsito livre à noite, mas não consegue se livrar de congestionamentos de até um hora para trechos percorríveis em 10 minutos durante o dia. Foi mais ou menos assim para mim essa semana: engarrafamento todo dia.

Como se esse estresse não fosse suficiente, as obras na cidade (inúmeras - Luanda é um canteiro) frequentemente derrubam água e energia elétrica, e vivemos à base do gerador e da bomba. Quando a gasolina do gerador acaba... Pelo menos há o consolo de que a cidade vai melhorar com tudo isso. Nesse um mês vi pequenas obras começarem e serem terminadas em ritmo relâmpago, e cada pequena intervenção dessas tem reflexo imediato da melhoria das condições de vida por aqui.

Um comentário:

  1. De todos que conheço e estão por aí, você é o mais otimista, mabroda. Que bom.

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