A infra é mínima: em todas as "lojas" o chão é o barro nu e o máximo de cobertura são gastas telhas de zinco, ou, mais comumente, lona. Obviamente, vende-se de tudo: logo na chegada, passamos por gêneros alimentícios, de vegetais comercializados diretamente sobre panos, no chão, a enlatados, caldo de carne, maionese e alimentos prontos, principalmente banana da terra na grelha.
Mais pra dentro, uma muito variada feira de tecidos com motivos africanos, que são chamados de "macaca", a maioria importados da Costa do Marfim. Depois chegam as roupas - bermudas, cuecas, calças, saias, blusas e calçados - do tênis gangsta ao all-star. O bacana são os bubus (as batas tradicionais, feitas com as macacas), mas o mais surpreendente é encontrar vestidos de noite e ternos completos.
Os colegas brasileiros decidem comprar bermudas, e param num rasta que tem roupas com motivos do exército, camufladas, e camisetas de Bob Marley. Bate o olho em um dos colegas e pergunta se ele é baiano, "da terra de Gilberto Gil". Com uma bata que vai da cabeça aos pés, óculos escuros e chinelo de couro, fuma um senhor cigarro de maconha, tão grosso quanto um charuto cubano.
Eles não levaram a bermuda (o rasta era careiro, e tudo aqui é na base da pechincha), e decidiram ver celulares: já estávamos na seção de informática, toda coberta de zinco, com teto baixo e extremamente apertada. Um forno microondas. Depois de muita conversa, um dos colegas leva um celular Nokia de última geração, vendido no Brasil a R$ 1,8 mil. Ele pagou US$ 120 - só conseguiu regatear US$ 10. Nem precisa comentar a variedade nesta seção eletrônica. Pode-se comprar desde pilhas a um notebook VAIO.
Daí chegamos à parte mais surpreendente. Se o Roque Santeiro é um grande shopping a céu aberto, não poderia faltar o cinema. O complexo tem duas salas, erguidas com madeira e restos de lona, e com capacidade para umas 50 pessoas cada. Em cartaz, Sete Vidas, com Will Smith, exibido em uma tv de 29 polegadas colocada numa mesa alta. O barracão é adequadamente escuro e os espectadores veem o filme em bancos de madeira sem encosto.
Já havia sido advertido de que, sem segurança e um apoio oficial, é impossível tirar fotos no mercado. Há casos de agressão a turistas e estrangeiros que tentaram registrar o local, e acabei sem imagens do Cine Roque. Apesar disso, o rótulo de antro da criminalidade me pareceu totalmente falso. Ao contrário do que acontece na Feira de São Joaquim, em Salvador, não fui abordado por nenhum espertinho querendo dar uma de cicerone, e nenhum punguista tentou me levar nada, nem a máquina que se destacava no bolso da bermuda.
No caminho de volta, para não passar em branco, fiz minhas compras. Uma escovinha de engraxar sapato, por 25 Kwanzas (1 dólar vale 74 Kwanzas) e um DVD de Desgraças da Vida, um dos raros filmes angolanos à venda entre blockbusters internacionais, thrillers de John Woo (todo o "catálogo" consiste em obras dele, como Bala na Cabeça e The Killer) e pornôs de todo o mundo.
Sem Kwanzas no bolso, acabei pagando cinco dólares pelo DVD de Desgraças da Vida (a sinopse da capa é sucinta: "Retrata a história de crianças acusadas de feitiçaria"), que custava somente 100 Kwanzas. Dei uma de turista e não pedi troco.
Cara,
ResponderExcluirMuito interessante o seu relato. Pelo que vi a cidade é IMENSA. Tu tem um colhão sinistro de ir trabalhar com jornalismo digital aí.
No mais, espero que dê tudo certo. Continuarei lendo suas aventuras. :) Abraço
É, Saymon, se a Feira de São Joaquim é patrimônio cultural, o que dizer de Roque Santeiro?
ResponderExcluirAdorei o relato. Pena não ter fotos, mas é iso mesmo, hehehe. Beijos,
Traz um tênis gangsta pra mim.
ResponderExcluir"Até obama dispensou guarda-costas pra caminhar, e Saymon exige um. Ele virou um colonizador em uma semana" - Cláudio Leal, em conversa via msn com esta que vos escreve.
ResponderExcluirhahahahhahahahhahaahahaa
Olá < eu procurando uma foto do Roque achei seu blog, e lembrei também do meu impacto ao ir a feira do Roque quando trabalhei em Luanda.
ResponderExcluirRealmente é incrível rsrs Mas tb fui com um Angolano, pois poderia me perder...e eles sabem onde ficam todas as seções rsrs
Surreal.
Alias Angola é incrível !
Abraços Ana
Tive a oportunidade de conhecer o roc santeiro,
ResponderExcluiré como diz aqui,andei por aqui pelo menos uma centena de vezes, sempre acompanhado do meu kamba Edson (keto) ou do naldo, yuri, tonim, e era sempre o mais encrenqueiro. Com o Edson eu circulava de mini van (xana chinesa)por todo aquele inferno de areia fofa e poeira fina.
eu comprava "mukua"gindungo, prego cano e uma pá surpreendente de coisas. ate gasolina.
Me foi oferecida em uma de minhas entradas, uma pistola STAR cal 45 e uma ak 47, queriam 500 dolares, não comprei. Ainda.
Mercado do roc, é fiche. para quem gosta de muvuca. mui bué.
roque roque roque até quando? vams sentir mto a tua falta ,aaaaiiiii de nós q dependems de ti... bem venha panguila
ResponderExcluirsou de luanda e n tinha como n ir ao roque tanteiro tanto mais n fosse por curiosidade ,fiquei bem conscint q muita gente realmente dependia do roque pra sobreviver e ganhar o seu pão ,pois q tal medida é como tudo tem as suas vantagens e desvantagens , se for pra bem comum que assim seja.só vou recordar com nostalgia o tempo q recorria la pra ir pegar um cabelo brasileiro pra aumentar na minha rica beleza(eu e minha prima sandra viagem aquela songa monga) , mas... enfim né, fazer o qué? com esse mercado so ganhei nada perdi acredito q eu e muits angolanos, não vams deixar panguila por mãos alheias...TODOS RUMO AO PANGUILA. força ANGOLANOS
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