quarta-feira, 4 de março de 2009

É (foi) carnaval

Na prática, o carnaval aqui em Luanda dura apenas um dia, e consiste em desfiles de blocos em uma das principais avenidas da cidade, a Marginal. Depois de pequenos desfiles no domingo e na segunda, a rua é completamente interditada na terça para a passagem dos grupos principais, vindos de todo o país, somente para dançar num pequeno trecho de pista e mostrar animação frente aos políticos e redes de televisão.

Do mesmo jeito que em Salvador os trios guardam suas apostas de hit para os locais onde há cobertura televisiva, aqui é nítida a influência da presença das câmeras na animação. Os blocos são bonitos, mas também são "para inglês ver".

A música é quase um acidente. Não há performances ao vivo, nem tampouco trios elétricos. Cada grupo deixa o cd com suas músicas típicas na mesa de som, e elas são reproduzidas na avenida por um sistema de rádio-poste.

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Fotos de Manuela Cavadas, ex-colega de jornal e agora colega de apê

A população da cidade não entra na avenida, mas não há a presença selvagem da corda, nem a sensação de competição social entre bloco e pipoca, como em Salvador. As duas partes são a mesma coisa. Em ambas, pode-se respirar à vontade, já que a festa não atrai tanta gente. Enche, mas não lota.

Apesar da dimensão reduzida da folia, os angolanos que decidem aparecer ir à Marginal costumam usar fantasias - e mais uma vez tenho a referência de antigos carnavais brasileiros. Vale tudo. Desde máscaras compradas em armarinho até opções mais elaboradas.

Um colega brasileiro observou a grande quantidade de pessoas fantasiadas de feridos, com braços falsamente engessados, ou curativos no corpo todo. Alguns mais detalhistas incluíam cicatrizes na barriga, e facas enterradas na cabeça. Sinais de uma guerra civil não muito distante no tempo, com seus feridos e mutilados.

No dia de carnaval, por aqui, pode tudo: em dias normais é proibido andar sem camisa pela cidade, mas durante a folia um angolano sai andando completamente nu e a polícia não faz nada. No carnaval pode.

Um comentário:

  1. Quando leio seu diário de bordo, as crônicas de Luanda, tenho a sensação de que estou andando por essas ruas tão estranhas e tão familiares.

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