Do mesmo jeito que em Salvador os trios guardam suas apostas de hit para os locais onde há cobertura televisiva, aqui é nítida a influência da presença das câmeras na animação. Os blocos são bonitos, mas também são "para inglês ver".
A música é quase um acidente. Não há performances ao vivo, nem tampouco trios elétricos. Cada grupo deixa o cd com suas músicas típicas na mesa de som, e elas são reproduzidas na avenida por um sistema de rádio-poste.
Fotos de Manuela Cavadas, ex-colega de jornal e agora colega de apê
A população da cidade não entra na avenida, mas não há a presença selvagem da corda, nem a sensação de competição social entre bloco e pipoca, como em Salvador. As duas partes são a mesma coisa. Em ambas, pode-se respirar à vontade, já que a festa não atrai tanta gente. Enche, mas não lota.
Apesar da dimensão reduzida da folia, os angolanos que decidem aparecer ir à Marginal costumam usar fantasias - e mais uma vez tenho a referência de antigos carnavais brasileiros. Vale tudo. Desde máscaras compradas em armarinho até opções mais elaboradas.
Um colega brasileiro observou a grande quantidade de pessoas fantasiadas de feridos, com braços falsamente engessados, ou curativos no corpo todo. Alguns mais detalhistas incluíam cicatrizes na barriga, e facas enterradas na cabeça. Sinais de uma guerra civil não muito distante no tempo, com seus feridos e mutilados.
No dia de carnaval, por aqui, pode tudo: em dias normais é proibido andar sem camisa pela cidade, mas durante a folia um angolano sai andando completamente nu e a polícia não faz nada. No carnaval pode.
Quando leio seu diário de bordo, as crônicas de Luanda, tenho a sensação de que estou andando por essas ruas tão estranhas e tão familiares.
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